Tuesday, February 22, 2005

Encontro e elevador


“My eyes adored you, though I never laid a hand on you, my eyes adored you...”
Foi tudo tão rápido e inesperado. E talvez por isso, a situação que não durou mais que 10 segundos fez toda a diferença na tarde que começava. Ele tão formal, mas ao mesmo tempo tão intimista, tão capaz de me deixar sem graça e com cara de boba. E eu que ando tão descuidada dessas coisas do coração, me entregando assim, dando a maior bandeira, me sentindo como uma garotinha de 15 anos, que dádiva!
Sinto pelos que não têm a capacidade de ouvir passarinhos cantando ao encontrar alguém que lhes toca o coração da maneira que ele toca o meu.
E ele, como se sentirá? Homem, talvez gostasse de saber o poder que tem sobre meu estado de ânimo. Lembro-me de um filme com Nicholas Cage, “Adaptation”. Ele faz um gêmeo de si mesmo. E numa conversa com seu irmão gêmeo, que é ele mesmo, diz que quando se sente algo especial por alguém, não importa o que o outro sente, mas sim a felicidade que se tem por e pelo que a gente sente. Eu certamente não cheguei a esse nível de desapego. Mas posso dizer que
he made my day today.
Que luz forte irradiou-se desse encontro... Naquele momento eu me senti como um vaso de vidro transparente cheio de água fria e cristalina e aquele encontro inesperado me encheu de água quentinha e colorida: laranja, vermelho, amarelo, tudo se misturando devagarinho e me aquecendo por dentro; depois me preenchendo lindamente e me transformando, me energizando, me fazendo melhor. E a lembrança do encontro, da sensação, é maior que a do rosto dele, que eu nem vi direito.
E tudo que fiz dali por diante foi mais bonito, mais sentido.
Agora à noite, pela primeira vez em quase 3 anos, fiquei presa no elevador aqui de casa. Essa era uma coisa muito temida por mim, pois sou meio claustrofóbica. Mas foi tudo tão tranqüilo. Apertei o alarme e esperei que viessem me soltar. Não entrei em desespero.
E então me pergunto: por que justamente hoje isso tinha que acontecer? Pode haver muitas respostas, mas creio que a melhor delas é que nada acontece por acaso, incluindo encontros com pessoas especiais que não se vê há algum tempo e ficar preso em elevadores depois de 3 anos.
(Texto escrito em 20/05/2004)

Tuesday, February 01, 2005

Cartas


Não sei se isso acontece com vocês, mas volta e meia me deparo com cartas de baralho jogadas na rua e ouso confessar que elas exercem certo fascínio sobre mim. Às vezes é quase um baralho inteiro, outras é apenas uma ou ainda uma numa calçada, outra no próximo quarteirão, como se a pessoa que as jogou tivesse querido marcar seu caminho. A pessoa que as jogou... E quem seria essa pessoa ou pessoas? Talvez alguém que se pareça comigo ou com vocês. Um estrangeiro ou estrangeira? Alguém insano ou lúcido demais ? Cartomante sem dente, jogador inveterado que perdeu tudo no buraco, travesti decadente, criança travessa, velho caduco, quem?
As de copas, 7 de ouros, rei de espadas. Cartas, cartas que provocam o grito de “Bati!” ou “Truco”! Acho que elas sempre estão tentando me passar alguma mensagem, bastaria que eu as soubesse interpretar. E ai passo o dia inteiro pensando: o que será que quer dizer aquele 8 de espadas? Dinheiro, amor, traição, doença, visita inesperada? E ai se acontece alguma coisa: viu, era isso que aquele coringa significava, como eu não percebi! Droga!
Soube de um conhecido que colecionava essas cartas, queria formar um baralho inteiro com elas. Depois viajou para a Austrália e eu nunca mais soube dele. Deve estar cumprindo seu destino. O destino descrito pelas cartas que não mentem jamais.

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