Saturday, January 29, 2011

As lágrimas da mestranda e do pedreiro

Um dia uma numeróloga disse que minha missão aqui era cultivar a alegria. E pensando bem sempre gostei muito de rir e fico muito, muito feliz quando faço com que as pessoas com quem convivo riam com minhas histórias, meu jeito de ser ou minhas estripulias.

Outro dia fui à universidade para fazer minha matrícula e na fila da secretaria havia uma mulher mais ou menos da minha idade. Visivelmente ansiosa, ela olhou para mim e perguntou o que eu havia escrito na carta para o professor da pós-graduação e logo em seguida me perguntou mais uma meia dúzia de coisas. Ela queria conseguir uma vaga para fazer uma matéria como aluna especial na Faculdade de Letras. Fui respondendo às perguntas, mas chegou um momento que mais que respostas pontuais, achei que ela precisava de uma injeção de ânimo. Então, lhe contei o mais brevemente possível sobre o meu percurso naquela faculdade, que não tinha sido fácil, mas que tinha valido a pena. Disse-lhe por fim que não desistisse, que fosse em frente se era o que queria. Acreditam que ela me agradeceu muito e chorou? Eu também me emocionei um pouco e sai de lá bem contente, com a impressão de tê-la ajudado de alguma forma. Fazer alguém chorar de emoção era algo que eu não lembrava ter experimentado.

Mal sabia eu que hoje algo semelhante iria acontecer. Já era a terceira vez que o pedreiro - que tem o mesmo nome do personagem principal de O amor nos tempos do cólera - prometia vir para colocar uma prateleira no meu banheiro. Meio que por falta de opção continuei acreditando na promessa e não é que ele veio? Entabulamos uma conversa fiada enquanto ele colocava a prateleira. Trabalho feito, perguntei quanto era e ele não quis cobrar. Dei um jeitinho de que ele aceitasse pelo menos "um cafézinho". Então, à queima roupa e discretamente, ele me disse que havia poucas pessoas com "qualidade como a minha" (não! o pedreiro não estava me cantando!). Ele falou isso de maneira muito séria e complementou:" ...e olha que eu conheço a senhora de ter falado umas duas ou três vezes, mas a gente observa. Hoje em dia, está todo mundo muito preocupado consigo mesmo." O curioso é que enquanto dizia essas palavras aquele homem chorou. As lágrimas escorreram dos dois olhos e pude vê-las caindo por trás das lentes dos óculos. Fiquei um pouco surpresa e também comovida. De alguma forma aquilo que para mim parecia conversa fiada para passar o tempo havia representado uma atenção, uma pista de humanidade para aquele senhor de aproximadamente 60 anos, pai de duas filhas e avô de uma futura engenheira mecatrônica.
Então fiquei matutando. Além de fazer os outros rirem, às vezes também posso levar as pessoas a se emocionarem a ponto de verterem lágrimas. Isso pareceu bom nesses dois casos, mas tudo isso é muito novo para mim.Lembrei-me de Cora Coralina que disse que nada na vida tem sentido se não conseguirmos tocar o coração das pessoas...


Tuesday, January 18, 2011

Sr. J. e a solidão

Hoje ao entrar no shopping logo o vi. Era o Sr. J. olhando o mundo à sua volta com uma cara que eu não defini ainda se era de cachorro sem dono ou simplesmente de um humano se sentindo sozinho mesmo. Pode até ser que o Sr. J. estivesse esperando por alguém ali naquela cafeteria ou que resolveu tomar um café por ali depois do almoço porque na casa dele não houvesse o precioso líquido. Mas o fato é que aquela visão me causou pensamentos meio tristes. Nossa, um homem tão conhecido, aí sozinho com essa carinha... e sem nem um smartphonezinho para disfarçar ou mesmo espantar a solidão...
Mas, não parei. Segui meu caminho também carregando minha própria solidão.

Monday, January 17, 2011

Etílica


Logo aquela combinação etílica de cerveja, caipirinha e vinho chileno começou a revolucionar dentro de mim e vieram os suores, mal estar, corridas ao troninho...enquanto na televisão passava a vida da rainha do Irã...falando francês, reclamando do quanto a vida dela tinha sido difícil . Total agonia...

Mas tudo tinha começado tão bem! Muita animação no começo da tarde daquele domingo de janeiro. Antes de sair para o encontro com os outros três membros do quarteto fantástico, uma leve calibrada: uma cervejinha enquanto esperava. Que mal haveria?

E assim foram chegando todos os membros do quarteto, tocaram a campainha e eu desci. Fomos caminhando e papeando pelas ruas do bairro e chegamos ao local combinado para o almoço. Pedi a tal caipirinha de Vodca, falei muito, comi pouco e em uns 10 minutos já flutuava olhando ora para um ora para outro, pensando estar entendendo tudo e totalmente no controle da situação. Qual quê! Mas aquela sensação etílica na companhia dos amigos era tão agradável...

Ao sair do restaurante, depois do cafezinho, surge o convite: vinho na nossa pizzaria favorita. Como eu iria dizer que não? O efeito das outras bebidas já ia passando e lá fomos nós para a pizzaria do português tomar vinho chileno: tacinha para cá, tacinha para lá, conversinha para lá, risadinhas para cá.... Tudo com muita leveza e tão agradável.

Antes das dez eu já estava em casa de novo e me sentindo muito bem, tão levinha. Mas não demorou para começar a se manifestar em mim o efeito oktoberfest, combinado com a revolução russa e o golpe do Chile: tudo isso junto com a TPM e a rainha do Irã e a jornalista ressentida que estava fazendo o filme sobre a rainha...

Até me livrar de tudo que me incomodava e finalmente poder sentir a verdadeira leveza e dormir como uma rainha, não a do Irã, levei mais ou menos umas três horas...

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